sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Razões para NÃO Adorar Maria

     Muitos que se dizem cristãos, ao serem questionados acerca da(s) personalidade(s) a quem eles cultuam,
insistem em reforçar as suas convicções monoteístas respondendo que dedicam sua adoração ao único Deus verdadeiro. Isso seria louvável, se realmente fosse observado na prática. O problema é que muitos incluem outras figuras como objetos de adoração em seus corações. Seja esse objeto tangível ou intangível, o fato de depositar a confiança e o louvor em qualquer outra coisa além do Deus trino é algo que fere o princípio da exclusividade da adoração ao Senhor (Êx 20.3). Muitos protestantes, pensando estarem inertes a esse problema, acabam criando ídolos invisíveis em seus próprios corações quando ocupam com outras coisas o lugar que deveria ser do Senhor.
     Entretanto, mesmo reconhecendo a grande importância desse assunto como exortação para os evangélicos, o alvo deste artigo é discorrer sobre esse problema dentro da esfera do Catolicismo. Nesse caso, a substituição da pessoa de Deus é ainda mais evidente (pelo menos, no meu ponto de vista). Os fiéis acabam recorrendo a uma infinidade de "santos" ou divindades a fim de dedicarem suas preces e derramarem sobre eles seus louvores. Quando são questionados sobre esse comportamento, eles se defendem, dizendo que não adoram a tais pessoas, simplesmente admiram a personalidade e os reconhecem como mediadores de suas causas diante de Deus. E, de forma ainda mais acentuada, Maria, a mãe de Jesus, torna-se o alvo principal dos louvores idólatras entre os católicos. E é justamente sobre ela que dedicaremos esse espaço.
     Sendo assim, o objetivo deste artigo é mostrar algumas razões pelas quais não devemos adorar a Maria (e nenhuma outra pessoa), mesmo considerando a sua importância para o cristianismo em sua origem. Além disso, outras questões serão comentadas, como a insistência dos católicos nessa prática (basicamente, o item 1 deste artigo) e quais as suas implicações teológicas.

1) Razões Históricas

     O louvor a Maria não foi sempre presente na igreja. Na verdade, não há nenhum registro entre os primeiros cristãos de qualquer tipo de veneração à mãe do Senhor Jesus (Tenney, 2008, vol. 4). Entre os escritos dos pais da igreja, há muitos elogios e apreciações à pessoa de Maria como a mulher que carregou o Salvador do mundo, mas nenhum deles a enfatiza de tal modo a torná-la digna de adoração (Rocha, 2005). Isso só veio a existir a partir do século IV, no Concílio de Éfeso. Nesse Concílio, Maria foi declarada a "Mãe de Deus", lhe atribuindo uma responsabilidade ímpar na formação do caráter divino de Jesus (Timm, 2003). Além disso, outros pensamentos posteriores, como a virgindade perpétua, a imaculada concepção e a assunção física foram cruciais para a dogmatização do culto a Maria pela igreja Católica.
     Isso nos faz pensar o seguinte: se Maria deve realmente ser venerada, é concebível o fato de que por aproximadamente 400 anos a igreja do Senhor tenha evitado esse tipo de prática?
Isso nos leva à segunda razão.

2) Razões Bíblicas

     É completamente compreensível que os primeiros cristãos nunca tivessem demonstrado nenhum tipo de veneração a Maria, pois não há nem sequer UMA instrução em toda a Bíblia que os levassem a esse tipo de prática. É possível ver algumas saudações e bem-aventuranças dirigidas à sua pessoa (ver Lc 1.28,42,48), mas isso não deve ser entendido como uma prescrição litúrgica ou uma ordem para adoração. O evangelista Lucas apenas estava descrevendo esses acontecimentos, e não os recomendando para a igreja. Segundo Tenney (2008, vol. 4), "essas passagens enfatizam o privilégio elevado e único, concedido a esta jovem especialmente escolhida, mas de forma alguma sugerem que adoração devia ser-lhe oferecida, a qual pertence somente a Deus".
     Será que algo que não é instruído pela Bíblia, mas unicamente através de concílios e tradições humanas, merece a nossa atenção como adoradores?

3) Razões Cristológicas

O Senhor Jesus, quando interrompido em um de seus sermões, disse o seguinte a respeito de sua própria mãe:
"Ora, aconteceu que, ao dizer Jesus essas palavras, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou: Bem-aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! Ele, porém, respondeu: Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!"  (Lucas 11.27,28.)
     A grande oportunidade que Cristo tinha para recomendar a todos os seus seguidores que venerassem Maria era justamente nesse momento, entretanto, ele não o fez. Ele também não depreciou a imagem de sua mãe, mas apenas a colocou no mesmo patamar de todos aqueles que desejavam viver de acordo com a palavra de Deus. A atitude de Jesus deve, no mínimo, nos impedir de agir como aquela mulher que o interrompeu.
     Outra atribuição dada a Maria que subestima a ação de Cristo na vida dos salvos é a de intercessão. A atitude de Maria no milagre de Caná da Galileia (Jo 2.5) é o principal argumento a favor da ação intercessória de Maria na vida dos fiéis. Essa doutrina, porém, vai de encontro com a atribuição singular de Cristo como o nosso intercessor diante de Deus (Jo 17.20; 1 Tm 2.5; Rm 8.34). Não há nenhuma passagem bíblica que mostra Maria como a intercessora dos homens. Sendo assim, quando esse atributo é conferido a ela, os teólogos acabam depreciando uma responsabilidade cristológica.

4) Razões Pessoais

     A própria Maria não tomou para si a glória de carregar o Salvador do mundo. Após receber a notícia do anjo de que havia concebido, ela louva ao Senhor pelos Seus feitos e diz:
"A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu coração se alegrou em Deus, meu SALVADOR." (Lucas 1:46,47)
     Somente alguém que está perdido em seus pecados assume a necessidade de um salvador. E Maria assim o fez. Ela acreditava que Deus não somente providenciou a salvação para o restante do mundo, mas também para ela própria. O fato de ela reconhecer a sua inferioridade é motivo para não dedicarmos nossa atenção a sua pessoa.

CONCLUSÃO

     Aqui estão algumas razões para não dedicarmos qualquer tipo de veneração a pessoa de Maria. Não estou afirmando que ela foi uma pessoa diabólica e deve ser desprezada no meio cristão. De forma nenhuma! Maria foi uma mulher privilegiada por carregar e cuidar do Messias que havia sido prometido desde o início da humanidade. Ela é bem-aventurada entre as mulheres porque nenhuma teve a oportunidade de preparar a vinda do Salvador a este mundo. Foi uma mulher piedosa e temente a Deus, seguindo sempre os passos de seu filho Jesus, mesmo após a sua morte e ressurreição (At 1.14). Creio que hoje ela está desfrutando da comunhão com Cristo nos céus, não porque ela foi assunta ainda estando viva, mas porque morreu crendo no Filho de Deus! Cristo foi o meio pelo qual ela chegou a Deus, assim como ele é também o nosso (Jo 14:6)! Sendo assim, não devemos adorá-LA, e sim, adorá-LO (o Deus Filho)!

REFERÊNCIAS
TENNEY, M. Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, vol. 4.
TIMM, A.R. Veneração de Maria: Como surgiu o dogma Católico da veneração de Maria. Revista Sinais dos Tempos, 2003.
ROCHA, J.M. O culto a Maria: uma criação do papado. Revista Parousia, 2005.



terça-feira, 28 de julho de 2015

Níveis da Graça?

     No âmbito cristão, é difícil algum fiel declarar que nunca ouviu falar acerca da graça de Deus. É
improvável que alguém que experimentou a salvação pela fé em Cristo não tenha condições de descrever - por mais simples que seja essa descrição - a doutrina da graça. Isso porque a graça está intimamente ligada aos ensinos concernentes à salvação e, assim sendo, alguém que já aceitou o dom da nova vida oferecido por Jesus Cristo deve, logicamente, compreender a graça de Deus.
     Embora nosso conhecimento sobre a graça esteja em um patamar satisfatório, nunca é demais buscarmos conhecê-la com mais afinco através da nossa fonte inesgotável de conhecimento teológico: a Palavra de Deus. E por inesgotável, entende-se que, por maior que seja o nosso esforço em retirar o máximo possível de conhecimento acerca de um determinado assunto, nunca iremos esgotá-lo por completo. É com esse sentimento que devemos buscar as respostas na Bíblia às nossas perguntas.
     E por falar em perguntas, aí vão elas! Nesse ensejo, pretendo responder a pergunta que deu título a este artigo: "Existem níveis de graça, ou a graça é sempre a mesma em todos os sentidos?". Obviamente, para responder essa pergunta, devo responder algumas outras, como: "A graça de Deus está somente ligada à salvação?"; "Somente os justos usufruem da graça?", e assim por diante.

A Graça em um contexto diferente da salvação

  A graça não é um favor de Deus que recai somente aos justos. Ou seja, a salvação não é o meio exclusivo pelo qual um indivíduo pode usufruir da graça de Deus. Para isso, vamos ao conceito mais básico de "graça": favor e bondade de Deus dado ao pecador imerecido. Apesar do termo "graça" está praticamente associado a obra de Cristo, ele não se restringe unicamente a isso [1].
     Por exemplo, se caminharmos para o início da história da humanidade, vemos Adão desobedecendo as ordens de Deus. Essa desobediência o traria consequências terríveis, como a morte ("certamente morrerás", Gn 2.17). Essa morte, além de significar separação de Deus, tem implicações físicas, indicando que o homem perderia sua imortalidade. Deus o havia criado de forma perfeita, mas o pecado revestiu seu corpo de corruptibilidade. Interessante que Deus poderia ter tirado a vida de Adão, merecidamente e coerentemente, no instante que ele pecou, mas Ele não o fez. O fato de Deus ter preservado sua vida foi uma demonstração de graça (favor sem merecimento). Talvez essa tenha sido a primeira manifestação da graça de Deus ao homem, antes mesmo de anunciar salvação através do Redentor (Gn 3.15)!

A Graça sobre Justos e Injustos

         Observe o texto em Mt 5.45:
"(...) porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos." Mateus 5.45
O favor de Deus não está somente sobre os seus filhos, mas sobre toda a Sua criação. Deus dá a possibilidade de que todos vivam bem nessa Terra, não baseado no merecimento humano. Óbvio que isso não implica que a salvação repousa sobre todos, pois essa conclusão seria incoerente com vários outros textos que a Bíblia fornece. Esse favor de Deus é algo que beneficia a todos os homens, embora não os leve a salvação [2]. Os teólogos chamam esse favor de Deus de "graça comum", diferenciando-o da "graça especial" (meio pelo qual Deus salva os pecadores). Enquanto a graça comum engloba toda a humanidade, a graça especial alcança apenas uma parte dela.
     Ainda sobre a graça, não como referência a salvação, mas como uma ação de Deus sobre os injustos, ver o artigo A Graça de Deus sobre a Perversão.

A Graça e os Dons Espirituais

     Falamos inicialmente sobre a dissociação entre graça e salvação em um contexto onde Deus abençoa tanto os justos como os injustos.Veremos, mais uma vez, alguns textos bíblicos que evidenciam a graça de Deus em um contexto "não-soteriológico", embora eles encontrem aplicações diretas em situações eclesiásticas. Eu estou falando na graça de Deus em conceder dons espirituais a Seu povo.
     Por mais que a habilidade de um indivíduo pareça ser algo que dependa exclusivamente de seu próprio esforço, isso, na verdade, provém de Deus. E, se é algo que é dado por Deus, sem mérito humano, então é graça. Moisés deixou claro isso quando registrou as palavras de Deus:
"Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício" Êxodo 31.2,3
O próprio Deus deu capacidade a Bezalel para desempenhar atividades que resultariam na construção do tabernáculo, o local de culto ao Senhor. Esse texto nos ensina que o Espírito Santo é o meio pelo qual Deus aplica sua graça na capacitação de obreiros para edificação da Sua obra. É óbvio que essa verdade não corrobora com o comodismo, excluindo a necessidade de dedicar tempo para aperfeiçoar nossas habilidades. A soberania de Deus deve está associada à responsabilidade humana.
     Iniciando uma seção sobre dons espirituais, Paulo diz o seguinte:
"E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo."  Efésios 4:7
O apóstolo também é testemunha de que os dons que foram confiados aos crentes são fruto da graça de Deus. Em outro texto, ele também atribui sua eficiência na obra de Deus como resultado da graça em sua vida (I Co 15.10).

A Graça e os seus Níveis

     Eis o motivo de nossa conversa! Creio que as linhas acima esclareceram algumas questões sobre a graça. O fato de Deus estender sua bondade até mesmo sobre aqueles que não O louvam é um sinal de Sua graça sobre eles. A diversidade dos dons espirituais presentes na igreja do Senhor também é sinal de Sua graça. "Como estas questões contribuem para a nossa compreensão sobre os níveis de graça?". Simples: o fato de vermos diferentes níveis de habilidades na igreja, ou diferentes níveis de prosperidade entre os incrédulos, são provas de que Deus não distribui sua graça da mesma forma a todos. Inclusive, Paulo nos diz que existem dons mais nobres do que outros (I Co 14.5), mostrando assim que Deus torna mais evidente Sua graça quando concede esses dons especiais aos seus filhos. "Mas qual seria o critério de Deus?". Sua soberania. Deus escolhe quem e como Ele quer abençoar. "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão" (Rm 9.15). A soberania é o que move Deus em Suas decisões. Nesse sentido, é necessário dizer que existem níveis de graça.
     Até agora falamos em graça em um contexto "não-salvífico". "Mas no que é concernente a salvação, podemos dizer que Deus distribuiu Sua graça em níveis diferentes?". Difícil responder essa pergunta. Mas creio que a graça para salvação é comum a todos os salvos, por mais que aparentemente ela seja distinta. Deixe-me explicar: imagine que dois homens aceitaram a Cristo, onde um deles era bom (moralmente falando) e o outro era um assassino terrível. Qual deles recebeu maior favor de Deus? Parece lógico responder que foi o segundo, não é? Porém, se entendermos que ambos estavam igualmente perdidos e condenados, é fácil concluir que os dois receberam a mesma coisa.
     Paulo diz que a graça torna-se mais abundante em meio ao pecado (Rm 5.20). Entretanto, isso não implica dizer que a graça assume tamanhos diferente em cada pessoa, dependendo do pecado de cada um. Gosto da ilustração do pai que tinha dois filhos, onde um deles era mal e o outro não era tão mal assim. O pai, então, decide presenteá-los, dando uma bola de futebol para cada um. Note que, apesar de o presente ter sido o mesmo, o favor do pai torna-se mais aparente, em uma perspectiva exterior, por aquele filho rebelde. Creio que Deus nos dá o mesmo presente da salvação, apesar de ser mais aparente a uns do que a outros.

Sendo assim, é razoável entendermos que a graça é dada em níveis diferentes, em questões "não-soteriológicas", mas torna-se única quando o assunto é salvação.


[1] TENNEY, M. Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008. Volume 2.
[2] CHAMPLIN, N. Enciclopédia de Teologia e Filosofia.
[3] http://www.biblestudy.org/maturart/levels-of-grace.html