sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quanto eu preciso saber da Bíblia para ser salvo?

"E que, desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus." II Timóteo 3:15
     As pessoas têm muita dificuldade em aceitar a graça de Deus. O fato de ser salvo sem fazer nada é algo que incomoda muita gente. Isso se dá, provavelmente, devido ao mundo em que vivemos hoje, que cria seres humanos com uma disposição para dispensar qualquer tipo de favor. A conquista é algo que faz parte do ego do homem, e eliminar isso é quase que destruir a essência de seu viver. Temos essa necessidade de receber apenas aquilo que merecemos, por isso o favor torna-se humilhante demais para ser recebido.
     Se você acha que os cristãos estão completamente fora desse grupo, você está enganado. "Como é que é? Os crentes não creem na graça?!". Tenha calma, deixe-me explicar. É óbvio que nós, cristãos, cremos na graça de Deus e compreendemos que a nossa salvação não depende de nosso esforço. Quero falar sobre pensamentos e conclusões que muitas vezes nos acomete e que limita [por tão pouco que seja] a graça de Deus. Eu estou falando sobre o conhecimento das doutrinas bíblicas. Não somente isso, mas a evidência do conhecimento bíblico [ou melhor, a falta deste] em outros cristãos. Infelizmente - e digo isso com muito pesar - temos muitas pessoas nas igrejas que não conhecem quase nada das Escrituras. Não manejam bem a Palavra da Verdade (II Tm 2:15). Quando o pastor cita uma referência na pregação, não conseguem achar o texto bíblico. Sofonias ou Habacuque? Eles nem tentam! Esse tem sido o perfil da maioria das pessoas que frequentam as igrejas evangélicas.  
     "E o que é que tudo isso tem a ver com graça?". Muitas vezes esse perfil leigo de muitos cristãos me fez questionar e, muitas vezes, diminuir a graça de Deus no papel da salvação. Será que alguém é realmente salvo, mesmo não compreendendo muito bem as doutrinas sobre salvação, sobre a pessoa de Deus ou de Jesus Cristo? Quanto uma pessoa precisa saber da Bíblia para ser salva? O versículo no início deste artigo me ajudou a pensar um pouco melhor e responder algumas dúvidas sobre esse assunto.
     Antes de discutirmos sobre o versículo acima, é interessante falarmos sobre o conhecimento das verdades Bíblicas. Em I Co 1 e 2, vemos o apóstolo Paulo dando uma bela explanação sobre a revelação da sabedoria de Deus aos homens. Ele nos diz que o mundo não pode conhecer a Deus pelos seus próprios meios (I Co 1:21) e que a mensagem do evangelho é loucura para eles (I Co 1:18). O conhecimento de Deus vem através de "Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus" (I Co 1:24) e Ele revela a Sua vontade através do Espírito Santo (I Co 2:10). Dessa forma, podemos concluir que as verdades bíblicas só podem ser verdadeiramente conhecidas através do Espírito Santo - e sabemos que esse Espírito habita somente naqueles que estão em Cristo.
     Agora, vamos voltar a nossa atenção para o versículo de II Tm 3:15, que está no topo deste artigo. Paulo fala a Timóteo sobre uma sabedoria para a salvação (observem o grifo do verso). Parece que o apóstolo está falando que existe um nível de conhecimento bíblico necessário que uma pessoa deve atingir para ser salva. Uma palavra chave para entendermos o verdadeiro sentido deste verso é a preposição "para". No português essa preposição pode assumir o papel de um adjunto adverbial, que indica uma finalidade ou propósito. Por exemplo: "Estou na escola para estudar", que representa a finalidade de estar na escola. Entretanto, quando analisamos o versículo no grego, a preposição "para" (εις) não indica uma finalidade. Ela é simplesmente uma preposição simples, usada apenas para ligar as palavras em uma oração. Qual a implicação disso? Quer dizer que o conhecimento e a sabedoria que podemos adquirir através das "sagradas letras" não tem a finalidade ou propósito principal de nos salvar, isto é, o conhecimento bíblico em si não traz a salvação. Podemos encontrar a salvação através da Palavra de Deus, mas o conhecimento [ou a falta deste] que temos das Escrituras não deve ser observado de forma absoluta como uma evidência da nossa salvação.
     É óbvio que a Bíblia apresenta o caminho da salvação. Pedro disse: "Senhor, tu tens as palavras da vida eterna" (Jo 6:68); vemos também que o caminho a Deus é somente através de Cristo, o Verbo (a Palavra). A Bíblia contém informações suficientes para que uma alma perdida tenha esperança de viver eternamente. É claro que é necessário que o pecador tenha conhecimento e compreenda (intelectualmente e espiritualmente) a sua condição miserável diante de Deus. Porém a salvação, manifestada pela graça de Deus, deve regida apenas pela fé em Cristo, seguida de um sincero arrependimento dos pecados. A graça torna-se limitada se condicionamos a sua ação salvadora no homem apenas ao atingir um determinado nível intelectual das Escrituras - e quando eu falo de nível intelectual das Escrituras, me refiro as doutrina elementares do cristianismo.
     Entretanto, a salvação não é motivo para relaxarmos no estudo bíblico. Vemos várias instruções na própria Bíblia sobre crescer no conhecimento de Deus. O autor de Hebreus nos diz, inclusive, que devemos nos aprofundar no estudo da Palavra:
"Por isso, pondo de lado os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito [completo, maduro](...)" Hebreus 6:1
Esquecer um pouco aqueles conceitos mais elementares do cristianismo (leite) e procurar destrinchar as verdades difíceis (Hb 5:11) da Bíblia e que parecem ocultas aos nossos olhos.
     A questão é que não podemos julgar a salvação de uma pessoa analisando somente o conteúdo bíblico que ela domina. "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2:8).
     Ah, e respondendo a pergunta que dá título a esse artigo, acredito que João 3:16 é suficiente!