terça-feira, 27 de maio de 2014

A Graça de Deus Sobre a Perversão

Certa vez, em um sermão sobre a depravação do homem, um pregador falou sobre a maldade tão evidente do totalitário alemão, Hitler. Isso me motivou a estudar e a escrever um pouco sobre esse assunto descrito no título deste artigo.

É interessante como as pessoas tornam-se imortais pelos seus feitos aqui na Terra. Isaac Newton, Mozart, Leonardo da Vinci, Freud, todos eles foram homens que deram grandes contribuições para a ciência, a música e a arte, e estão vivos até hoje em nossas literaturas. Hitler, porém, ficou marcado na história pelos massacres e homicídios que realizou durante a Segunda Guerra Mundial. Praticamente a personificação da maldade, a ponto de virar até um parâmetro de comparação entre as atrocidades que vemos hoje em dia. Assim como é difícil encontrar novos "newtons" ou "mozarts", também acredito que não é em qualquer esquina que encontraremos homens como Hitler, não é mesmo? Será? A Bíblia nos fala que o homem é intrinsecamente mal, e que não há boas intenções em seu coração. "Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há um sequer." (Rm 3:12). Entretanto, nem todos saem por aí matando milhares de pessoas sem nenhuma razão sã, convencendo outras milhões de pessoas de que ele está certo sobre isso. É bastante óbvio para todos que existem pessoas que são aparentemente mais más do que outras. Não precisa fazer nenhum estudo para ter certeza sobre isso; basta ligar a televisão em reportagens policiais para concluir que você não seria capaz de fazer a mesma coisa que aquele assassino e estuprador fez com seus próprios filhos. Até mesmo pessoas que não conhecem a Deus tem um bom senso moral sobre esse assunto. A questão é a seguinte: como conciliar o ensino bíblico sobre a natureza completamente depravada do homem que não conhece a Deus, com os diferentes níveis de maldade que vemos em nossa sociedade? Ou seja, por que existem pessoas menos más do que outras, se o homem é totalmente mal? Adiantando a resposta, isso também é fruto da graça de Deus! Mas vamos ver o que a Bíblia nos fala a respeito disso!

No Cap1 de Romanos, Paulo descreve a triste situação depravada do homem. Vemos que o homem "repousa" sobre a ira de Deus, porque, mesmo tendo condições suficientes para perceber a existência de Deus [pois o próprio Deus Se revela através das coisas que foram por Ele criadas], não Lhe dão o devido louvor; pelo contrário, eles julgam ser sábios o suficiente para excluírem a necessidade da dependência de Deus. "Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos" (Rm 1:22). E essa não é somente uma condenação àqueles que se intitulam ateus, mas também a todos que não creem na pessoa de Jesus Cristo - a manifestação da glória de Deus (Jo 1:14). Não há como glorificar a Deus, senão através do Senhor Jesus. Desta forma, todos os homens [inclusive eu e você], em algum momento da vida, estiveram [ou estão] nessa situação de condenação diante do SENHOR.

Entretanto, a minha ênfase está no texto seguinte, a partir do verso 24, onde Paulo descreve a situação moral daqueles que não honram a Deus. "Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia (...)" (Rm 1:24, grifo meu). O restante do texto também nos diz que Deus entregou esses homens a paixões infames (v. 26) e a uma disposição mental reprovável (v. 28). Vamos procurar, então, estudar um pouco sobre a palavra "entregou", presente nos três versículos destacados acima. Segundo Coenen et al. (2000, vol. 1, p. 646-649), a palavra entregou tem origem na expressão grega παραδιδωμι (paradidomi), que, no uso clássico, tem a ideia de "passar adiante", "entregar", "render", "transmitir", entre outros. Em quase todas as ocasiões que o apóstolo Paulo usa essa palavra, ele expressa uma ideia de "transmissão de uma doutrina ou tradição". É como se Paulo estivesse tentando dizer que Deus simplesmente "transmite" aquilo que parecia ser "tradicional" na vida do ímpio; ou seja, por haverem pecado contra Deus, Ele permite que esse homens continuem pecando. Deus paga o pecado com pecado. Agora, tenham muito cuidado ao lerem essas frases! Em nenhum momento eu disse que Deus era a fonte do pecado; ou que Deus é o agente para a existência do pecado. De forma nenhuma! Deus simplesmente não intervém de forma plena no desejo humano de pecar; Ele repassa aquilo que os homens haviam feito, a princípio, quando trocaram a glória de Deus pela sua própria. Enquanto o homem negar o louvor devido a Deus, ele será entregue a paixões e a uma mente cauterizada.

Tendo isso em mente, vamos voltar nossa atenção a descrição de Paulo quanto ao comportamento imoral evidenciado naqueles homens que não honram a Deus. Dentre a idolatria (Rm 1:25) e o homossexualismo (Rm 1:26, 27), tem-se a lista a seguir:
"Cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia." Romanos 1:29-32
 Uma lista bem grande. Essa é a condenação terrena dos que não depositam sua fé em Cristo. Tenho certeza que, para alguns, isso parece mais dádiva do que castigo; mas pode apostar que é um tremendo de um castigo!

Desta forma, conhecendo o perfil daqueles que insistem em negar o louvor devido a Deus, surge o seguinte pensamento: "Ok, Paulo descreve a situação imoral daqueles que negam a Deus, mas nem todas essas pessoas apresentam esse comportamento lamentável. Isto é, nem todas são homossexuais, ou homicidas, ou difamadoras, ou malignas, etc. Como explicar isso?" Só há uma forma de explicar isso, e é através do Ser que dosa a consequência do pecado. Que entrega o homem a pecados maiores devido a sua incredulidade; e esse ser é o próprio Deus! Ele não intervém plenamente no pecado, como falamos anteriormente, mas é óbvio que existe algum nível de intervenção divina para que toda a humanidade não seja um caos total. Mas será que isso é por conta de algum tipo de merecimento humano, onde Deus olha a "boa intenção" do homem e, por isso, não permite que ele seja mal? Não! Isso é fruto de Seu grande atributo, chamado GRAÇA. A graça não está presente somente na salvação do pecador, mas também em refrear a maldade do ímpio. O próprio Deus é quem diminui a maldade no coração do homem de acordo com a Sua soberana vontade e não mediante atitudes humanas. Se não fosse a graça de Deus agindo dessa forma, toda a humanidade tinha o comportamento imoral descrito por Paulo em Romanos 1. Agora, a manifestação da graça de Deus nesse aspecto não produz o mesmo resultado com relação a salvação! É importante deixar isso bem claro. De alguma forma, a graça de Deus está sobre a vida do ímpio e do justo, entretanto, no primeiro caso, ela atua para refrear maldade do homem, e no segundo caso, para dar a salvação ao homem.

Sabendo de tudo isso, você ainda acha que Hitler foi uma pessoa extraordinária, no sentido de que ele foi uma exceção ao comportamento humano? Não! Na verdade Hitler é um exemplo de como o homem realmente é em seu interior. É simplesmente a essência do ser humano, a prova de que o homem sem Deus está completamente perdido.