sábado, 30 de agosto de 2014

Jesus Cristo: apenas um exemplo a ser seguido?

"Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo." I Coríntios 11:1
Paulo não está sendo orgulhoso - como alguns pensam - quando referiu essas palavras. Ele estava ensinando os irmãos de Corinto a manterem um comportamento cristão em meio a sociedade pagã e imoral em que viviam. Com certeza, quase que a totalidade deles nunca viram pessoalmente a Cristo e pouco ouviram acerca de seus ensinos. O apóstolo, de forma resumida e direta, exorta aqueles irmãos a terem como parâmetro de imitação a vida de Paulo, que obviamente foi um reflexo do que Cristo pregou e fez aqui na terra, além do fato de o terem conhecido pessoalmente. Mas será que Cristo é somente um bom exemplo, que vale a pena ser imitado? Será que ele simplesmente foi um homem com bons valores morais e sociais e que lutou, até a morte, para que seus princípios fossem praticados? Será que ele foi somente um pensador revolucionário que criou uma religião chamada cristianismo?

Paulo escreveu esse versículo em uma carta endereçada a uma igreja que havia na cidade de Corinto. O público alvo desta mensagem era pessoas que já professaram publicamente a fé em Cristo; que realmente criam nele como salvador de suas vidas. A essa altura da história (55 d.C.), as boas novas de Cristo já haviam sido espalhadas pelo mundo do primeiro século. Um dos meios pelo qual o mundo soube da vida de Jesus foi através do próprio apóstolo Paulo, em suas muitas viagens. Ele, inclusive, levou o evangelho para a cidade de Corinto. Uma das formas que o apóstolo encontrou de continuar ensinado, exortando e esclarecendo os assuntos referentes a vida cristã, foi por meio de cartas - que compõem boa parte do nosso Novo Testamento. E nesse caráter exortativo, o conteúdo da mensagem que essas cartas carregavam era a recomendação de um padrão de vida semelhante ao de Cristo (Ef 4:1; 5:1; 6:1-5; Fp 1:27; 2:5). Essa é a vontade de Deus: que seus filhos vivam como o seu Filho! Dessa forma, só há sentido em imitar Jesus para aqueles que realmente o tem como Salvador de suas vidas. Esse processo de imitação é chamado de santificação!

Entretanto, mesmo pessoas que não depositam inteiramente sua fé em Cristo reconhecem que ele foi um homem de caráter  e continua sendo um exemplo mundial para ser seguido. As suas atitudes e os seus ensinamentos devem ter um espaço na educação humana sobre ética e responsabilidade social. Ele sustentou as suas teses e, mesmo sofrendo pressão religiosa e política por parte dos judeus e do governo romano, não negou a sua personalidade, preferindo morrer do que ver sua ideologia morta. Seu pensamento movimentou uma multidão de pessoas que, acima de tudo, lutavam pelos direitos dos pobres e pela inclusão dos marginalizados. É assim que o mundo ver a Cristo. Será que "seguir o exemplo de Cristo" é a solução para a humanidade? Vou melhorar a minha pergunta: será que pessoas que não depositaram sua fé no sacrifício de Cristo podem ser transformadas somente por seguir o exemplo de Jesus? A ênfase para a salvação do pecador deve ser no sacrifício de Cristo ou em sua vida terrena como um revolucionário? Apesar de muito do que foi citado no início desse parágrafo ser verdadeiro, há um perigo mortal em confiar na restauração da humanidade sendo pragmático sobre o exemplo de Jesus.

Primeiro, não há como seguir os passos de Cristo se você não estiver em Cristo. Ou seja, só é possível imitar a Jesus se você o reconhece como o Salvador de sua vida. Veja o verso abaixo:
"Aquele que diz que permanece nele [em Cristo], esse deve andar assim como ele andou." I Jo 2:6
É nisto em que está baseado a salvação, segundo a Bíblia. O homem é transformado quando crê na morte substitucional e na ressurreição sobrenatural de Cristo. Deus não cobra que se atinja um patamar de bondade para que isso aconteça (Rm 4:5). Basta depositar sua fé completamente na pessoa de Jesus. É algo instantâneo, e não progressivo (At 16:31). Seguir os passos de Jesus seria uma consequência e uma evidência de que esse primeiro passo [de fé] já foi dado. Portanto, seguir o exemplo de Cristo, esquecendo-se de crê nele, é um caminho sem êxito diante de Deus.

Segundo, temos que entender o que significa conversão. A Bíblia nos diz que o salário do pecado é a morte (Rm 6:23), ou seja, quem peca contra Deus deve morrer para que a Sua justiça seja satisfeita. Dessa forma, o máximo que um viver "piedoso" - segundo os passos sofridos de Cristo - pode fazer é consertar a sua situação do presente e do futuro, mas seus pecado do passado estão em débito para com Deus. Você precisa pagá-los. "Sem derramamento de sangue não há remissão" (Hb 9:22). A grande beleza do evangelho é que Deus aceita um substituto para pagar pelos seus pecados. Foi assim que aconteceu com Israel, durante o regime da Lei. Deus providenciou os sacrifícios levíticos para que os pecados da nação fossem pagos. O israelita deveria levar um animal sem defeito para o altar, colocar sua mão sobre a cabeça dele (simbolizando a transferência da culpa pelo pecado) e o sacrificar, satisfazendo a justiça de Deus. A questão é que "o animal morria, mas não como um exemplo de como o pecador deve, em troca, sofrer pelos seus próprios pecados e, desse modo, encontrar perdão; ele morria como um substituto no lugar do pecador, para que o pecador não tivesse que sofrer ele próprio a pena do seu pecado e morrer" (LENNOX, 2014). Esses sacrifícios levíticos eram um símbolo do sacrifício perfeito que viria mais tarde na pessoa de Cristo. Da mesma forma, a morte de Jesus não representa um legado de sofrimento que cada um deve experimentar para conseguir de Deus o perdão, mas sim o perfeito sacrifício, onde todo que deposita inteiramente a sua fé nele, experimenta o perdão do Pai. E a realidade da situação é essa: "até que os homens e as mulheres sejam convertidos, eles não terão nem o poder nem a disposição de seguir o exemplo de sofrimento de Cristo" (LENNOX, 2014).

A diferença é minuciosa, mas é fatal. Enquanto você encarar Cristo como simplesmente um grande homem na história, o seu problema não está resolvido. Me entristeço quando vejo as pessoas enaltecendo Cristo dessa forma. Eles colocam Jesus no topo das personalidades mundiais, mas não fazem ideia do que ele realmente representa. Ele é a intervenção divina para a salvação do homem, e não um homem politicamente correto! Ele não somente morreu, mas ressuscitou!


LENNOX, John & GOODING, David. A Definição do Cristianismo. Editora A Verdade, Porto Alegre, 2014.